Imaculada (2024)

Imaculada (2024)


Um terror provocativo com final chocante e reflexivo



por Giovani Zanirati

Imaculada (2024)
Direção: Michael Mohan
Roteiro: Andrew Lobel
País: Estados Unidos - Itália
Nota: 7,5/10

Imaculada, lançado em 2024, e atualmente disponível no Prime Video, é um filme de terror que rapidamente atraiu a atenção tanto da crítica quanto do público, ao abordar temas delicados como a religiosidade e a violência contra as mulheres, culminando em um final chocante e perturbador. Evito banalizar conceitos ou exagerar em adjetivos apenas para causar impacto, mas, honestamente, é difícil descrever o desfecho desta obra de outra forma. No entanto, é crucial destacar que o trabalho de Michael Mohan vai além de seu clímax surpreendente, e para alguns, possivelmente ofensivo. Embora apresente alguns problemas estruturais significativos, a narrativa consegue, em última análise, entregar uma história competente.

O filme, no entanto, inicia de uma forma que não me agrada particularmente. A sequência de abertura apresenta uma freira, desesperada, fugindo de um convento, apenas para ser atacada por outras freiras, cobertas por máscaras fantasmagóricas. Gravemente ferida, a jovem é enterrada viva. Apesar do impacto visual e do choque imediato, a cena deixa claro que há algo profundamente sinistro naquele convento. Embora a sinopse já sugira isso, prefiro ser guiado de maneira mais sutil ao longo da trama. Em seguida, somos apresentados à jovem noviça Cecília, interpretada por Sydney Sweeney, que deixa os Estados Unidos para viver no mesmo convento, localizado em uma área isolada da Itália. Lá, ela é recebida calorosamente pela maioria dos religiosos, especialmente pelo Padre Tedeschi (Álvaro Morte).

De maneira ágil, o filme — relativamente curto — começa a explorar os eventos estranhos que Cecília testemunha, os quais passam a se refletir em seus sonhos e alucinações. A narrativa brinca com o espectador, mesclando elementos de terror psicológico e sobrenatural, deixando em aberto a possibilidade de ambos. O ponto mais surpreendente da trama ocorre quando os religiosos descobrem que Cecília está grávida, embora ela seja virgem. A partir desse momento, ela passa a ser vista como um milagre divino, mas a crescente desconfiança da jovem a leva a perceber que sua própria vida está em perigo.

Apesar de contar com uma premissa promissora, Imaculada falha em estabelecer uma identidade clara. Como terror psicológico, o filme aborda de forma crua temas polêmicos, enriquecendo a trama com camadas de suspense. A visão visceral da religiosidade, em que os interesses e o bem-estar de Cecília são ignorados em favor da crença no suposto milagre, é especialmente desconcertante. A jovem é privada de cuidados médicos adequados, e complicações em sua gravidez são simplesmente ignoradas. Para os religiosos, o mais importante é o corpo de Cecília, visto como um receptáculo para o nascimento do "filho de Jesus". Esse clima de opressão intensifica a sensação de desconforto e tensão.

Contudo, o filme perde força ao apelar para clichês sobrenaturais. As cenas que exploram o elemento paranormal são tratadas de maneira convencional e, em alguns casos, parecem desnecessárias ou mal elaboradas, diminuindo o impacto da proposta original. É como se Michael Mohan não tivesse plena confiança nos aspectos mais provocativos de sua obra, que por si só já teriam sido suficientes para causar inquietação no público.

À medida que os acontecimentos se tornam ainda mais bizarros, como suicídio e língua cortada, Cecília passa por uma transformação significativa, lutando pela sobrevivência em meio ao caos religioso. Isolada e desesperada, ela tenta fugir do mal representado pelas autoridades eclesiásticas. Vale destacar a atuação notável de Sydney Sweeney, que inicia de forma contida, refletindo a inocência de sua personagem, e se transforma em uma guerreira determinada. Sweeney consegue transmitir, com precisão, essa evolução emocional, especialmente no último e mais impactante ato do filme. No entanto, devido à brevidade da narrativa, os demais personagens são subdesenvolvidos. Eles desempenham papéis importantes na trama, mas o roteiro não lhes oferece profundidade suficiente.

E o final? Como mencionei no início, após enfrentar uma série de provações, Cecília se vê diante de uma situação extremamente tensa e complexa. Qual seria sua melhor escolha? O desfecho contribui para o impacto do filme? Eu diria que sim. O final é corajoso e claramente defendido pelo diretor. Sem necessariamente levantar uma bandeira política, Imaculada termina com todo o peso do mundo nos ombros de Cecília, que, diante do suposto milagre, escolhe a liberdade, a vida — e, talvez, a humanidade. Além de contar com a atuação expressiva de Sweeney, o filme será lembrado por este desfecho chocante e brutal, certamente gerando debates acalorados. Em resumo, trata-se de uma obra instigante, embora falhe em explorar todo o potencial de sua premissa.

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